Hoje eu acordei precisando de você...
...engraçado, eu nunca achei que
isso fosse acontecer comigo, da minha mais tenra infância até os 35, nunca tive
animal de estimação... aliás, até tive, cachorros que eram criados no quintal
quando eu era moleque, que não era MEU, era de todo mundo, mas nunca dentro de
casa, nunca com carinho e afeto. Já a Mary sempre teve cachorro, quando
começamos a namorar ela tinha a Loba, uma Pastor Alemão, idosinha, doente já,
nem convivi muito com ela, mas acompanhei de perto a dor da Mary ao perder a Loba,
ela chorava que soluçava, e eu dizia “credo, parece que morreu uma pessoa e não
um cachorro...” no alto da minha sensibilidade com animal, como eu era burro,
mal eu sabia!
Vendo todo esse amor de Mary
pelos cachorros, pensei que não haveria presente melhor pra dar a ela que um
cachorro, eis que veio a Maggie, falei pra Mary “amor, é um labrador chocolate
legítimo”, quando cheguei com ela, pfff...
a Mary sabia que era uma mistura de labrador com vira-latas, mas pra ela
pouco importava, ia criar com amor do mesmo jeito, e mais ainda, me fez ensinar
como amar um cachorro. Maggie foi crescendo apegada a nós, todos os dias quando
ia pra casa da Mary, ela pulava em mim, me lambia, pedia carinho, foi assim me
conquistando, me ensinando como era o amor de bicho. Logo depois, eu trouxe a Pérola
pra fazer companhia pra Maggie, e dessa vez eu disse “agora acertei, essa sim é
labrador original” e não era! Mais uma vira-lata cheia de amor e dengo,
personalidade totalmente diferente da Maggie, mas ainda assim, não eram MINHAS,
eram criadas pela Mary e pela Tia Rose.
Então, o tempo passa, eu e
Mary vamos morar juntos, um apartamento que mal cabe nós dois, a última coisa que pensávamos era ter
um animalzinho de estimação, eis que veio a pandemia, algumas pessoas se desfaziam
de seus bichos como se desfizesse de uma roupa velha, um sapato usado. Eis que
vejo o post do meu amigo PretoLeo, era sobre uma cachorrinha de pequeno porte, já
estava amarrada a horas no poste perto da casa dele, ele viu que se tratava de
abandono, levou pra casa, deu agua, comida e um afago, e disse que precisava de
um tutor para aquela cachorrinha! Não pensei duas vezes, não sei por que, algo
me dizia que deveria ir la e pegar essa cachorrinha, chegando la, Leo veio com
a sacola com algumas coisinhas, ração, coleira, brinquedinho e ela. Foi amor a primeira
vista, meio acuada, sem entender o que tava acontecendo, a peguei no colo,
coloquei no carro e corri pra casa. Chegando lá, primeira coisa que Mary fala “Rodrigo,
você é louco? Essa cachorro não vai ficar aqui, ela vai ficar aqui até arrumar alguém
que possar ficar com ela...” tá bom... logo a Mary, a louca dos cachorros,
começava ali a mais linda história de amor das nossas vidas!
Eu quem escolhi o nome,
PITAYA, parecia a fruta, quando cortada, branquinha e cheia de “sementinhas”
pretas, um Mickey nas costas, um olhar doce, e a capacidade de fazer qualquer
um se apaixonar! Pitaya, que nome legal, combinou demais com ela, logo de cara
vi que ela não era apenas uma cachorrinha abandonada, ela era especial em todo
sentido, o olhar dela era capaz de ler sua alma, ela era puro amor e verdade. Super
inteligente, carinhosa, adorava dar rolê pelas ruas perto de casa, era
incrível! Logo no segundo mês que Pipi tava com a gente veio o primeiro susto,
uma noite em casa, depois de comer, ela apresentou um comportamento estranho,
tava inquieta, o brilho de seus olhos deu lugar a um olhar de medo, parecia que
ela sabia o que estava por vir. Pitaya convulsionou, crise pesada de epilepsia,
a Mary entrou em estado de choque, achou que ela morreria ali naquele momento,
até que ela foi voltando ao normal... enfim, descobrimos que Pitaya era ainda
mais especial, tinha um problema cerebral, e precisávamos cuidar dessas crises,
vieram muitos remédios, outras crises, e fomos aprendendo a lidar com isso, e
ela nos ensinando como viver a vida com tantos problemas e sendo feliz. Eis que
veio o Segundo susto, Pitaya começou a engordar demais, apresentou um inchaço
na barriga, levamos ao Vet achando que ela tinha alguma doença, pra nossa surpresa,
ela estava prenhe, e os filhotes estavam prestes a nascer, vieram cheio de
saúde, conseguimos tutores maravilhosos para todos eles. E seguimos nossa vida,
eu, Mary e Pitaya. Ela foi a nossa grande companheira na pandemia, quando eu
saía pra trabalhar, ela ficava em casa “cuidando da Mary”, quando eu retornava
do trabalho era recebido com o maior amor do mundo, o rabo batendo nas paredes,
nas pernas de mesa, ela sabia que eu estava chegando quando meu carro dobrava a
esquina de casa, ela tinha um sensor. Lembro perfeitamente do seu rostinho na
tela da janela, olhando pra baixo, esperando eu subir, era um sensação maravilhosa....
como é bom e ruim ao mesmo tempo lembrar disso... Pitaya nos ensinou tantas
coisas, e mais ainda, Pitaya nos salvou tantas vezes, minhas crises de ansiedade
e pânico era amenizadas quando eu estava com ela, eu me sentina seguro quando
ela deitava no peito, quando dormia na nossa cama com a gente. Não é exagero
nenhum dizer que conviver com a Pitaya salvou nossas vidas. Tudo com ela era
diferente. Logo eu, que nunca fui de “amar” cachorro, nunca admiti o termo “pai/mãe
de pet”, mas a Pitaya veio pra ensinar!
Cara, quantos momentos bons, saíamos pra passear, fomos pra cachoeira, assistir
o pôr do sol, por incrível que pareça, nos acompanhava nos barzinhos, adorava
andar de carro, putz... quantas coisas legais que fizemos juntos... Era muito
bom conviver com ela. Pitaya era luz, amor, carinho, ensinamento. Ela nós fez
aprender a ter paciência, resiliência, acreditar que se hoje ta ruim, amanhã
vai ser melhor. Pitaya foi um anjo de
quatro patas nas nossas vidas.
Todos os dias acordo pensando nela, como ela bom ser acordado com seus Lambeijos,
como era doloroso sair pra trabalhar e ver seus olhinhos tristes querendo ir
com a gente. Com certeza, um dos piores dias da minha vida foi quando Pitaya partiu,
foi inesperado demais, aliás, com certeza sempre é inesperado, fazia tempo que
eu não sentia uma dor tão grande, é uma dor na alma, a dor da ausência que só
grandes coisas e pessoas podem causar, é a dor do perder, é a dor do saber que você
não terá mais, é a dor da saudade que nunca será sanada, É dor. Naquele dia
perdi meu chão, e tentei encontra-lo nas lembranças, creio que pra Mary foi do
mesmo jeito, por mais que ela já tenha passado com outros bichos, aquela dor
era diferente de todas as outras, era a dor de perder um ENTE querido. Era
saber que dali em diante todos os dias seriam diferentes, mais apagados, mais
frios, mais cinzas.
Hoje acordei com mais saudade
que acordaria normalmente, pensei que com o passar do tempo seria mais fácil,
mas não, você era a Pitaya, nada pra você foi fácil, então pra gente também não
vai ser... O Amor vai existir pra sempre, quando vejo suas fotos e vídeos, meu
coração se enche de dor ao mesmo tempo que transborda alegria, Pipi era só
amor. Que falta você faz minha filhinha, eu sempre vou te amar, pra sempre, a Mary
também, obrigado por ter transformados nossas vidas, com toda certeza, os 2
anos que você conviveu com a gente foram o suficiente pra nos transformar em pessoas
melhores! Como Mary sempre cantava pra você “Pipizinha do coração, tchururu” você
estará para sempre com a gente, no pensamento, no coração, na nossa alma. “Você
Marcou as nossas vidas, viveu e morreu na nossa história”, eu precisava de
alguma forma eternizar isso, você foi a melhor cachorrinha do mundo, cachorrinha
que nada, você era humana presa no corpo de um bicho, seus olhos falavam com a
gente, você era melhor que muita gente. Obrigado Pipi.
A saudade nunca acabará, pois a saudade é o amor contemplando a ausência.