sexta-feira, agosto 05, 2022

Pitaya


 

Hoje eu acordei precisando de você...

...engraçado, eu nunca achei que isso fosse acontecer comigo, da minha mais tenra infância até os 35, nunca tive animal de estimação... aliás, até tive, cachorros que eram criados no quintal quando eu era moleque, que não era MEU, era de todo mundo, mas nunca dentro de casa, nunca com carinho e afeto. Já a Mary sempre teve cachorro, quando começamos a namorar ela tinha a Loba, uma Pastor Alemão, idosinha, doente já, nem convivi muito com ela, mas acompanhei de perto a dor da Mary ao perder a Loba, ela chorava que soluçava, e eu dizia “credo, parece que morreu uma pessoa e não um cachorro...” no alto da minha sensibilidade com animal, como eu era burro, mal eu sabia!
       Vendo todo esse amor de Mary pelos cachorros, pensei que não haveria presente melhor pra dar a ela que um cachorro, eis que veio a Maggie, falei pra Mary “amor, é um labrador chocolate legítimo”, quando cheguei com ela, pfff...  a Mary sabia que era uma mistura de labrador com vira-latas, mas pra ela pouco importava, ia criar com amor do mesmo jeito, e mais ainda, me fez ensinar como amar um cachorro. Maggie foi crescendo apegada a nós, todos os dias quando ia pra casa da Mary, ela pulava em mim, me lambia, pedia carinho, foi assim me conquistando, me ensinando como era o amor de bicho. Logo depois, eu trouxe a Pérola pra fazer companhia pra Maggie, e dessa vez eu disse “agora acertei, essa sim é labrador original” e não era! Mais uma vira-lata cheia de amor e dengo, personalidade totalmente diferente da Maggie, mas ainda assim, não eram MINHAS, eram criadas pela Mary e pela Tia Rose.
         Então, o tempo passa, eu e Mary vamos morar juntos, um apartamento que mal cabe  nós dois, a última coisa que pensávamos era ter um animalzinho de estimação, eis que veio a pandemia, algumas pessoas se desfaziam de seus bichos como se desfizesse de uma roupa velha, um sapato usado. Eis que vejo o post do meu amigo PretoLeo, era sobre uma cachorrinha de pequeno porte, já estava amarrada a horas no poste perto da casa dele, ele viu que se tratava de abandono, levou pra casa, deu agua, comida e um afago, e disse que precisava de um tutor para aquela cachorrinha! Não pensei duas vezes, não sei por que, algo me dizia que deveria ir la e pegar essa cachorrinha, chegando la, Leo veio com a sacola com algumas coisinhas, ração, coleira, brinquedinho e ela. Foi amor a primeira vista, meio acuada, sem entender o que tava acontecendo, a peguei no colo, coloquei no carro e corri pra casa. Chegando lá, primeira coisa que Mary fala “Rodrigo, você é louco? Essa cachorro não vai ficar aqui, ela vai ficar aqui até arrumar alguém que possar ficar com ela...” tá bom... logo a Mary, a louca dos cachorros, começava ali a mais linda história de amor das nossas vidas!
         Eu quem escolhi o nome, PITAYA, parecia a fruta, quando cortada, branquinha e cheia de “sementinhas” pretas, um Mickey nas costas, um olhar doce, e a capacidade de fazer qualquer um se apaixonar! Pitaya, que nome legal, combinou demais com ela, logo de cara vi que ela não era apenas uma cachorrinha abandonada, ela era especial em todo sentido, o olhar dela era capaz de ler sua alma, ela era puro amor e verdade. Super inteligente, carinhosa, adorava dar rolê pelas ruas perto de casa, era incrível! Logo no segundo mês que Pipi tava com a gente veio o primeiro susto, uma noite em casa, depois de comer, ela apresentou um comportamento estranho, tava inquieta, o brilho de seus olhos deu lugar a um olhar de medo, parecia que ela sabia o que estava por vir. Pitaya convulsionou, crise pesada de epilepsia, a Mary entrou em estado de choque, achou que ela morreria ali naquele momento, até que ela foi voltando ao normal... enfim, descobrimos que Pitaya era ainda mais especial, tinha um problema cerebral, e precisávamos cuidar dessas crises, vieram muitos remédios, outras crises, e fomos aprendendo a lidar com isso, e ela nos ensinando como viver a vida com tantos problemas e sendo feliz. Eis que veio o Segundo susto, Pitaya começou a engordar demais, apresentou um inchaço na barriga, levamos ao Vet achando que ela tinha alguma doença, pra nossa surpresa, ela estava prenhe, e os filhotes estavam prestes a nascer, vieram cheio de saúde, conseguimos tutores maravilhosos para todos eles. E seguimos nossa vida, eu, Mary e Pitaya. Ela foi a nossa grande companheira na pandemia, quando eu saía pra trabalhar, ela ficava em casa “cuidando da Mary”, quando eu retornava do trabalho era recebido com o maior amor do mundo, o rabo batendo nas paredes, nas pernas de mesa, ela sabia que eu estava chegando quando meu carro dobrava a esquina de casa, ela tinha um sensor. Lembro perfeitamente do seu rostinho na tela da janela, olhando pra baixo, esperando eu subir, era um sensação maravilhosa.... como é bom e ruim ao mesmo tempo lembrar disso... Pitaya nos ensinou tantas coisas, e mais ainda, Pitaya nos salvou tantas vezes, minhas crises de ansiedade e pânico era amenizadas quando eu estava com ela, eu me sentina seguro quando ela deitava no peito, quando dormia na nossa cama com a gente. Não é exagero nenhum dizer que conviver com a Pitaya salvou nossas vidas. Tudo com ela era diferente. Logo eu, que nunca fui de “amar” cachorro, nunca admiti o termo “pai/mãe de pet”, mas a Pitaya veio pra ensinar!
Cara, quantos momentos bons, saíamos pra passear, fomos pra cachoeira, assistir o pôr do sol, por incrível que pareça, nos acompanhava nos barzinhos, adorava andar de carro, putz... quantas coisas legais que fizemos juntos... Era muito bom conviver com ela. Pitaya era luz, amor, carinho, ensinamento. Ela nós fez aprender a ter paciência, resiliência, acreditar que se hoje ta ruim, amanhã vai ser melhor. Pitaya foi um anjo de  quatro patas nas nossas vidas.
          Todos os dias acordo pensando  nela, como ela bom ser acordado com seus Lambeijos, como era doloroso sair pra trabalhar e ver seus olhinhos tristes querendo ir com a gente. Com certeza, um dos piores dias da minha vida foi quando Pitaya partiu, foi inesperado demais, aliás, com certeza sempre é inesperado, fazia tempo que eu não sentia uma dor tão grande, é uma dor na alma, a dor da ausência que só grandes coisas e pessoas podem causar, é a dor do perder, é a dor do saber que você não terá mais, é a dor da saudade que nunca será sanada, É dor. Naquele dia perdi meu chão, e tentei encontra-lo nas lembranças, creio que pra Mary foi do mesmo jeito, por mais que ela já tenha passado com outros bichos, aquela dor era diferente de todas as outras, era a dor de perder um ENTE querido. Era saber que dali em diante todos os dias seriam diferentes, mais apagados, mais frios, mais cinzas.
           Hoje acordei com mais saudade que acordaria normalmente, pensei que com o passar do tempo seria mais fácil, mas não, você era a Pitaya, nada pra você foi fácil, então pra gente também não vai ser... O Amor vai existir pra sempre, quando vejo suas fotos e vídeos, meu coração se enche de dor ao mesmo tempo que transborda alegria, Pipi era só amor. Que falta você faz minha filhinha, eu sempre vou te amar, pra sempre, a Mary também, obrigado por ter transformados nossas vidas, com toda certeza, os 2 anos que você conviveu com a gente foram o suficiente pra nos transformar em pessoas melhores! Como Mary sempre cantava pra você “Pipizinha do coração, tchururu” você estará para sempre com a gente, no pensamento, no coração, na nossa alma. “Você Marcou as nossas vidas, viveu e morreu na nossa história”, eu precisava de alguma forma eternizar isso, você foi a melhor cachorrinha do mundo, cachorrinha que nada, você era humana presa no corpo de um bicho, seus olhos falavam com a gente, você era melhor que muita gente. Obrigado Pipi.

A saudade nunca acabará, pois a saudade é o amor contemplando a ausência.