terça-feira, outubro 18, 2011

Monólogo

                 

                  Se tem uma coisa a qual eu não temo é a morte, é sério, eu não temo a morte, eu temo a vida...
Muitos poetas e otimistas já declararam seu amor pela vida, algo como "a vida é linda" "a vida é bela" "a vida é esplêndida", não que eu discorde, a vida é realmente algo fascinante, inexplicável, é de um dinamismo incrível, mas para mim, além disso tudo, a vida é assustadora, sim meus caros amigos, a vida é assustadora, eu temo a vida sem o rigor que temo a morte, afinal a morte é a única certeza que temos, já na vida, não temos certeza de nada. 
                  Para muitos é essa inconstância que faz dela algo formidável,  como diria Heráclito de Éfeso "ninguém se banha duas vezes no mesmo rio, pois o rio não é o mesmo assim como aquele que nele se banha..." é essa constante transformação que eu temo, não que eu gostaria que a vida fosse algo estático, não é isso, o que eu gostaria mesmo é que tivéssemos um pouco mais de tempo para confirmamos certas coisas que nos acontecem, e tivéssemos a oportunidade de confirmarmos certas teorias, consolidarmos certos pensamentos, eternizarmos alguns sentimentos, mas a vida muda o tempo todo, dura o tempo de uma tempestade ou de um copo d'água.
                  Por exemplo, os anos 80 não deveriam durar apenas 1 década, hoje temos que nos conformamos com a nostalgia, com aquele sentimento do que ficou pra trás, eu sinto isso o tempo todo, ainda mais quando lembro de pessoas, lugares, músicas, atividades que fazia, não que eu não goste do que tenho hoje, mas como o tempo é algo extremamente volátil, logo logo, o que eu tenho hoje, será apenas mais um sentimento nostálgico. Eu só quero deixar claro que eu não tenho horror a vida, nem muito menos acho uma coisa ruim, o que eu quero relatar é o medo, o receio, se é que posso falar assim, que ela me causa ao pensar nela, principalmente na minha, e por falar nisso, não sei como tem gente que ainda tem tempo de pensar  e cuidar da vida alheia, é um esforço desnecessário, mas voltando ao assunto, o que eu temo é a forma que eu tenho que me adaptar ao mundo, conduzir meus atos, controlar minhas palavras, dosar meus sentimentos, porque tudo o que eu sou e faço hoje, amanhã será obsoleto, desgastado e démodé, será eu me perdendo na minha própria vida.
                 Você já parou pra pensar em hoje ter tudo, amanhã não ter nada? hoje ser tudo (pra alguém ou pra você mesmo) e amanhã não ser nada? Querer e não poder? sei lá, não é apenas questão de materialidade, mas eu acho que a vida cobra demais, oferece de menos (cada vez menos conforme envelhecemos) e ainda requer maior jogo de cintura pra lidar com ela, a morte não, uma vez estabelecida, não volta atrás (não conheço ninguém que voltou pra contar, rá), isso não me faz preferir a morte, mas também não me faz teme-la, mas a vida sim, essa me surpreende a cada dia, me dá cada susto, me faz descobrir a cada dia que eu não sou o que eu penso que sou, me revela uma face no espelho assustadora, a vida é dura e real, talvez até demais, pra quem vive de utopias.
                  Tudo muda o tempo todo. É como se fosse meu corpo no horário de verão, quando estou me adaptando, é hora de mudar novamente, pô! isso desgasta! Mas apesar disso é algo que é desperta total fascínio, embora eu a olhe atravessada, e por favor gente, eu não to reclamando da vida não... espero que não entendam dessa forma, é apenas a forma que a vejo hoje, amanhã com certeza vai mudar, tudo muda.

 


obs.: no texto entendam "vida" da forma que vocês quiserem, não se deixem levar por um ou outro conceito.


                               

2 comentários:

Mateus Brito disse...

Num quero esse doce aí não!

LEO disse...

Concordo! Também tenho medo dessa coisa mutante, muitas vezes invisível. Estar no controle é saber que nunca se está pleno, é comprar uma dúvida cada vez maior.
Parabéns pelo blog!